Veados à beira do rio. História da relação entre o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) e as sociedades humanas na costa do Rio da Prata

Resumo

O veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) é um cervo de médio porte e hábitos gregários que ocupa pastagens abertas, com distribuição atual reduzida na Argentina. Na província de Buenos Aires, onde foi declarado Monumento Natural Provincial, apenas uma população relictual permanece na Baía de Samborombón. Diferentes evidências atestam sua presença no passado na costa do Rio da Prata. O objetivo deste artigo é contribuir para o conhecimento da relação entre o veado-campeiro e as sociedades humanas em uma perspectiva diacrônica na região do Rio da Prata (partidos de Magdalena, Punta Indio e Berisso, província de Buenos Aires). Para isso, articulam-se informações arqueozoológicas de contextos pré-hispânicos e históricos, o estudo de documentos históricos e as narrativas de moradores locais. Os registros arqueológicos pré-hispânicos mostram uma importante presença da espécie no passado e permitem interpretar estratégias de caça e uso integral. Com a chegada europeia iniciou-se um processo que moldou em grande medida a paisagem atual, com a introdução de espécies vegetais e animais, particularmente o gado. Diferentes fontes documentais indicam o uso da espécie e a comercialização de suas peles. Além disso, o avanço da pecuária e o uso de cercas a partir de meados do século XIX transformaram a paisagem onde viviam os cervos. No início do século XX, a introdução do cervo chital (Axis axis) e do javali (Sus scrofa) contribuiu para o desaparecimento da espécie na área de estudo. O veado-campeiro é considerado parte do passado da região costeira. A confluência de perspectivas analíticas permite explorar a história da relação animal-humano e investigar os saberes em torno da paisagem.